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Vento novo
 
Flora Figueiredo
Estava enrolada 
em teias e traças, 
debaixo da escada, 
lá no subsolo 
da casa fechada. 
Começava a tomar ares de desgraça. 
Manchada do tempo, 
fenescia 
a esperar que um dia 
alguma coisa acontecesse. 
Antes que se perdesse completamente, 
sentiu passar um vento cor-de-rosa. 
Toda prosa, espanou a bruma, 
pintou os lábios 
e sem vergonha nenhuma 
caprichou no recorte do decote. 
A felicidade volta à praça 
cheia de dengo e de graça, 
com perfume novo no cangote. 
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