Supremo enleio

Florbela Espanca

Quanta mulher no teu passado, quanta!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Se delas veio o sonho que conforta,
A sua vinda foi três vezes santa!

Erva do chão que a mão
de Deus levanta,
Folhas murchas de rojo à tua porta...
Quando eu for uma pobre coisa morta,
Quanta mulher ainda! Quanta! Quanta!

Mas eu sou a manhã: apago estrelas!
Hás de ver-me, beijar-me em todas elas,
Mesmo na boca da que for mais linda!

E quando a derradeira, enfim, vier,
Nesse corpo vibrante de mulher
Será o meu que hás de encontrar ainda...

Ilustração de Eugénia Tabosa


Conheci Florbela numa época de grandes descobertas. Era tudo tão revolucionário,tudo tão novo... o mundo se abria e eu me abri pra Florbela.


Poemas de Florbela Espanca, Martins Fontes, 1996 - S. Paulo, Brasil